De volta ao trabalho. 2012.

Olá a todos. Sou Leonardo Assis, mestrando em Políticas Culturais, do Programa de Ciência da Informação da ECA/USP – orientando da Profa. Lúcia Oliveira Maciel. Neste ano que passou fiquei ausente das discussões e eventos na área da informação. Nem publiquei mensagens neste blog em 2010 (ano do TCC), nem 2011. Credito esse momento ao fato de iniciar o mestrado na ECA e, com isso, dedicar um tempo maior para as disciplinas e leituras. Sou das antigas – espírito lento. Acredito que é preciso de tempo para entender o mundo e saber onde você está.

Confesso a vocês que não foi simples essa primeira fase do mestrado. A mudança de pensar a Biblioteconomia e passar a discutir Ciência da Informação traz uma série de problemas conceituais que não consigo transportar de forma simples. Esse discurso que inicia com a biblioteconomia francesa, chega até aos modernos sistemas de organização do conhecimento americano e misturado a tecnologia, para mim, continua sendo biblioteconomia com uma nova roupa. Pensei várias vezes em escrever um texto sobre esses problemas conceituais com o título A nova roupa do Rei, uma referência ao conto de Hans Christian Andersen. Quem sabe mais para frente eu publico esse texto, mas com esse tempo curto do mestrado não é possível.

No entanto, cheguei a conclusão que a C.I. está em uma fase de legitimação de discurso e que não adianta discutir com eles, pois não querem ouvir. Entre tantas confusões, esse período foi bom para decidir que neste momento de vida estou trabalhando a questão das bibliotecas, principalmente as políticas públicas, e que não abordarei essa discussão que tanto me aborreceu.

Apesar dessa ausência em discussões e eventos da área (não fui para ENANCIB, ENEBDS, EREBDS, nada), participei da criação do Laboratório de Cultura, Informação e Público na ECA USP. Esse projeto ainda está em desenvolvimento e faz parte de um grande sonho que é criar um centro de pesquisa capaz de gerar indicadores para as áreas da informação e cultura no Brasil. O desafio está sendo enorme, pois poucos apareceram para trabalhar voluntariamente e colocar a iniciativa funcionando. Mesmo com tantas dificuldades, estamos pensando em realizar dois eventos esse ano, trazer alunos de Iniciação Científica que queiram discutir as questões que nos são relevantes e começar a criar um corpo de trabalho na USP que atenda as demandas do país.

Também, vale lembrar que em 2011 fui um monitor (sem nenhum vínculo) na disciplina Biblioteca e Sociedade do Prof. Luís Milanesi. Experiência que não tem preço. Já tinha sido monitor na disciplina de Cultura e Políticas Culturais, mas nessa disciplina histórica para área ainda não tinha me aventurado. Precisava ouvir aqueles alunos e perceber quais são as suas realidades diárias de estágio nas bibliotecas particulares e públicas. O resultado foi satisfatório, mas percebi certa superficialidade nas discussões. O aluno do segundo ano na universidade, principalmente no curso de biblioteconomia da ECA, ainda não traz aquele espírito de discutir e questionar as políticas para com as bibliotecas. Tudo isso é compreensível e na minha formação também foi dessa forma. Entendo a todos, apenas meu espírito queria mais.

É isso. Procurei esse caminho da pesquisa e espero que em breve possa trazer novas discussões para o blog. Um desejo que tenho é o de voltar a conversar assuntos da área com todos. Estou preparando dois textos que em breve postarei aqui – títulos ainda provisórios:

- As metas do Plano Nacional de Cultura para com as Bibliotecas: questões e reflexões;

- A atual política da Biblioteca Nacional: desenho de política, estratégia e gestão.

Escreverei sem compromisso teórico e científico aqui. Talvez em algum momento apareça uma citação, mas vou deixar esse formalismo para os artigos. Afinal, isso é um blog e não uma avaliação de pareceristas. Percebi que se nos preocuparmos com tanto formalismo as ideias ficam duras, ou seja, perdem a vida. Portanto, vamos deixar que elas nasçam e gerem discusões junto daqueles que queiram ler algo sobre informação e políticas culturais.

Termino com um trocadilho da célebre frase de Marx.

Informadores de todo o mundo: uni-vos.

Um grande abraço a todos.

Leonardo Assis
06 de janeiro de 2012

Comentário: A casa da Invenção. p. 71

MILANESI, Luís. A casa da Invenção. 4. Ed. São Paulo: Ateliê. p. 71. 2003.

“As velhas bibliotecas municipais, por força da tradição literária subjacente num país com alto índice de analfabetismo, são assimiláveis, de modo destacado, porque servem à escola.”


Duas colocações podem ser discutidas neste parágrafo se analisadas pós abertura política no Brasil. A primeira, relacionada ao alto índice de analfabetismo. A segunda, de que as bibliotecas ganham destaque por servirem à escola. O índice de analfabetismo no país ainda é alto, mas sofreu alterações pós abertura política em 85. Este encontra-se numa escala de desenvolvimento que é possível prever a redução da quantidade de analfabetos nas próximas décadas. Portanto, o quadro apresentado, que por muito tempo persistiu no Brasil, não é o mesmo. Em relação a segunda colocação, o papel das bibliotecas que servem à escola vem sendo substituído pela internet. Data-se este acontecimento a partir dos anos 90, com a abertura do mercado de eletrônicos, iniciada pelo governo Collor. É mais agradável, levando-se em conta acomodação de espaço e serviços de atendimento ao usuário, que o estudante faça pesquisas para seus trabalhos escolares sem sair de casa, ou em uma lan house do bairro. As prateleiras empoeiradas das bibliotecas e a dificuldade para encontrar assuntos nos livros foram substituídas pelos serviços de busca da internet. Um simples clique traz uma infinidade de informações na tela do computador. A preocupação com a qualidade de conteúdo da informação não se discute neste modelo, pois necessita de um processo de entendimento cognitivo que, muitas vezes, está aquém do público que adquire o conteúdo. Processo que foi proposto pela TV com a propagação de informações indiciais nos telejornais e novelas no país. Também, impulsionado pela escola, preocupada na formação de uma quantidade de estudantes a fim de conseguir verbas do Estado. Com isso, é preciso pensar que as tradicionais bibliotecas necessitam de diferentes ações para estimular seus públicos nestes espaços de informação. As velhas iniciativas de manutenção do acervo em estantes, sem diálogo com a sociedade, estão fadadas ao fracasso e esquecimento. Mais que uma organização de livros, a biblioteca precisa se tornar uma geradora de idéias. Um espaço coletivo de criação.

De que forma as iniciativas em bibliotecas e nos equipamentos culturais no Brasil sofrerão os impactos da crise econômico-financeira em 2009?

O ano que se inicia marca um momento de instabilidade no mundo causado pela crise econômico-financeira. Muitos setores da sociedade brasileira já estão sentindo os reflexos desse problema, sendo os bancos e a indústria automobilística os mais afetados até agora. A área da Cultura não está imune ao momento atual. Portanto, ela sentirá as ações do mercado financeiro, talvez não de modo direto, mas sim nos seus reflexos. Com isso, podemos fazer uma indagação: de que forma as iniciativas em bibliotecas e nos equipamentos culturais no Brasil sofrerão os impactos da crise econômico-financeira em 2009?

É sabido, de acordo com a grande imprensa- jornais, revistas, blogs, entre outros – que os orçamentos da União, bem como do Estado de São Paulo, foram reestruturados para suportar o impacto da crise financeira neste ano. Na área da Cultura tal ação será aplicada na forma de um menor repasse de verbas para bibliotecas, museus, centros culturais etc. No relacionamento com pessoas ligadas a administração de equipamentos culturais em São Paulo, já está claro que ações que puderam ser realizadas ao longo do ano passado não serão repetidas em 2009. Organização de encontros e palestras com personalidades de outros países, programas de exposições, mesas redondas de discussão, ou seja, realização de projetos que dependiam de um recurso monetário, que já era parco vindo do setor público e privado, tornam-se inviáveis na conjuntura atual. É difícil pensar que o pouco feito no Estado de São Paulo na área da cultura, será ainda menor nos próximos meses.

Uma saída para este momento a fim de manter e criar projetos à sociedade, em especial na área da cultura e dos equipamentos culturais, será criar uma estrutura de parcerias entre instituições. A divisão de custos entre os agentes culturais possibilitará uma diluição de gastos para que se promovam projetos culturais neste ano. É improvável que uma instituição banque sozinha a realização de um evento de grande porte na área da cultura. As incertezas do mercado financeiro impedem ainda mais que os recursos monetários sejam aplicados em áreas tidas por grande parte da sociedade como de “menor importância”.

No entanto, como bem trouxe o devaneio lançado pelo Prof. Teixeira Coelho no caderno MAIS da Folha de São Paulo, 28 de dezembro, a área da Cultura, se bem explorada, pode sim ser um dos setores de auxílio para alavancar a economia brasileira em 2009. Os agentes envolvidos na criação de projetos culturais são empregadores potenciais de uma parcela significativa de trabalhadores. Além disso, a área da cultura também é um mercado que gera consumo entre os cidadãos. São ainda inexploradas em nosso país muitas de nossas riquezas culturais. Para isso, nem precisam ser injetados tantos recursos financeiros em projetos. Boas ações em bibliotecas, museus, entre outros, explorando o trabalho com as comunidades locais, seus públicos, bem como os acervos já existentes, poderão fazer a diferença num estágio de aumento da taxa de desemprego da população e diminuição do poder aquisitivo do Estado brasileiro. Tais iniciativas deverão ser realizadas aplicando-se todo capital criativo e intelectual dos agentes culturais. Atenta-se, neste momento, para pensar menos na técnica do fazer, mas sim no público a que se destina o projeto. Sem que isso aconteça, as mídias da sociedade industrial continuarão tomando o espaço dos equipamentos culturais, sendo que elas já fazem parte de nosso eletrodoméstico cotidiano.

Se por muitos anos a área da cultura, em especial a biblioteca, vem sendo deixada de lado das luzes do capital financeiro, chegou a hora dos informadores e agentes culturais trabalharem com as suas criatividades para colocar em circulação os tesouros de nossa cultura à sociedade. Um momento de re-tribalização das pessoas e usos da cultura, pois o capital do consumo está menor.

Resumo da Crítica – “Bibliotecário lida com gestão da informação”

A matéria realizada pelo caderno FOVEST expõe uma visão parcial sobre a área da Biblioteconomia, em especial, em São Paulo. Visão que vem sendo apresentada pelas Escolas de Biblioteconomia e Sindicatos em relação ao papel do Bibliotecário em sociedade, mostrando-o como um desbravador de novos espaços de trabalho. A realidade vivida pelos alunos e formandos deste curso não é bem como foi apresentada. Os postos de trabalho do Informador ainda são os locais tradicionais da profissão como, por exemplo, as Bibliotecas e os Centros de Documentação. Os formandos que atuam em outros ambientes de trabalho, muitas vezes, o fizeram por iniciativas próprias. O curso, em si, pouco trabalha a relação entre público e informação, pois discute mais questões técnicas da área. Um profissional generalista que está colocado em xeque pela sociedade contemporânea.

Crítica – “Bibliotecário lida com gestão da informação”, Folha de São Paulo, Caderno FOVEST, 30 de dezembro de 2008

Sou Leonardo Assis, 23, aluno do quarto ano de Biblioteconomia da ECA/USP. Gostaria de fazer algumas críticas em relação à matéria intitulada “Bibliotecário lida com gestão da informação”. A reportagem apresentada pelo caderno FOVEST, nesta terça-feira, 30 de dezembro, apresenta uma visão parcial sobre a área da Biblioteconomia. Visão que vem sendo apresentada pelas Escolas de Biblioteconomia e Sindicatos em relação ao papel do bibliotecário em sociedade, mostrando-o como um desbravador de novos espaços de trabalho. A realidade vivida pelos alunos e formandos não é bem como foi apresentada na matéria.

O informador (e não bibliotecário), seguindo a conceituação do Prof. Luis Augusto Milanesi, não é mais um profissional que está restrito as bibliotecas. No entanto, a atuação dos formandos em biblioteconomia no país ainda não apresenta uma mudança em relação aos locais de atuação em sociedade. Um estudo realizado pelo Departamento de Biblioteconomia da ECA/USP, em 2005, constata que grande parte de seus ex-alunos, formados no período de 2000-2005, atuam em locais tradicionais da profissão, como, por exemplo, bibliotecas e centros de documentação. As bibliotecas em escolas públicas e privadas, universidades, e em instituições governamentais são os principais campos de trabalho desse profissional (Temos o exemplo de nossa ex-colega de Curso, Luana Coelho). Os cursos formadores dessa área pouco estão se importando para toda a revolução no conceito de informação que foi desencadeada pelas tecnologias. Os alunos formandos que apresentam uma atividade diferente frente à área são aqueles que, por iniciativa própria, buscaram outros aperfeiçoamentos, não somente aqueles concedidos pelos cursos formadores, que, na maioria das vezes, estão pautados em questões técnicas da profissão.

Além disso, a questão sobre a formação de um profissional generalista também é uma problemática na área que vem sendo contestada por alunos, professores e profissionais, desde a década de 80. Um profissional generalista, na verdade, possui poucos conhecimentos para atuar em áreas de trabalho que, na maioria das vezes, são de alguma especialidade. É sabido que as grandes áreas da Ciência como, por exemplo, a medicina, engenharia e o direito, desenvolveram especializações em suas áreas de formação para melhor atender seus públicos. A Biblioteconomia não fez (e não faz) talespecialização em seus públicos de informação. Daí decorre todo esse problema de atuação do profissional em sociedade, o que deixa potenciais campos de atuação como, por exemplo, a cultura e o social desatendidos de profissionais e projetos.

Um breve comentário em relação ao estágio na área também deve ser feito. Tornou-se comum que os alunos desse curso sejam cada vez mais solicitados pelas instituições para trabalharem como mão de obra barata. Tal questão vem causando um problema de esvaziamento da Universidade – pelo menos aqui na USP. Muitos de nossos colegas são absorvidos facilmente pelo mercado de trabalho como estagiários em bibliotecas e centros de documentação, o que os afasta de todo o convívio da vida acadêmica na universidade. Passam mais tempo em locais de trabalho do que na troca de conhecimentos com seus colegas de curso. Isso vem causando uma paralisia acadêmica em relação a se pensar projetos e problemas da área, pois os alunos estão atuando de forma precoce no mercado de trabalho. A crítica que faço em relação ao estágio se refere ao estágio não obrigatório, que é possível de ser realizado em qualquer momento na graduação de Biblioteconomia.

Portanto, a matéria apresentada pelo caderno FOVEST, apresenta uma visão parcial da atuação do informador em sociedade. As fontes utilizadas no artigo, para discorrer sobre a profissão, são de instituições que trabalham na manutenção de um status quo da área. Com isso, o artigo pouco trouxe para alunos que desejam seguir essa área de conhecimento. Alunos que não se enquadram nos padrões tradicionais que são oferecidos pelos cursos de formação da área, mas que sabem o potencial de se trabalhar com informação na sociedade contemporânea.